quinta-feira, outubro 26, 2006

Eu penso em você cinematograficamente

Em fevereiro eu já repetia internamente como um mantra : Vou a São Paulo em outubro. Os dias passaram e outubro logo chegou.
A vôo da ida foi dramático: tráfego aéreo intenso, tempo ruim, condições climáticas nada favoráveis para a aterrissagem. Resultado: a viagem que era para durar uma hora, durou duas.O avião voando em círculos. Quando ia aterrissar o piloto arremeteu para procurar melhores condições para o pouso. Eu não tenho medo, é sempre uma mistura de contentamento e emoção todas as vezes que estou nas nuvens, mas confesso que comecei a ficar tenso no momento em que o piloto arremeteu. Você não estava no mesmo vôo e no tumulto do aeroporto só te enxerguei em fragmentos.
O hotel não tinha uma localização como esperávamos e logo já estávamos em outro que mais aparentava a praticidade dos ambientes de Tóquio, mas sem aquele aparato tecnológico, sem o requinte fotográfico da última geração de cineastas orientais.
Enfim nos instalamos.
À noite fui te encontrar no teatro, mas na ansiedade de te achar me perdi em outros olhares que também o procuravam ou por algo que aproximasse de você.
Sexta feira eu não tive tempo, as vitrines e sacolas me distraiam. Apesar de ter lhe visto no metrô. Talvez à noite, mas eu já estava muito cansado, o sono não me deixou ir.
Sábado, enquanto vasculhava as lembranças e a história de vidas alheias guardadas em objetos antigos naquela feira eu te vi passando. Rápido demais para quem se distraia.
No bar onde já me esperavam você nem chegou perto.
Por mais de uma vez te vi nos corredores e nas lojas do Iguatemi, se você fosse mercadoria eu teria lhe comprado. E você se multiplicava e eu não conseguia me fixar em você.
Domingo nem por um instante sequer, eu poderia te esquecer.
Segunda-feira você tomou café da manhã na mesa ao lado. Seu celular tocou, só restou ouvir a sua voz sumindo pelo restaurante do hotel. Naquele momento desisti de você.
Hora de voltar.
Você estava no aeroporto enquanto aguardávamos autorização para o embarque. Eu te vi de longe. Joana, que sempre encontra o que procuro e ainda estabelece uma relação custo benefício me chama, era o perfume da Burberry . O império do luxo britânico representado em notas olfativas. Um dos frascos mais belos que já vi. Não importa.
Nada mais tinha importância perto do seu olhar a queima-roupa a me perseguir até o portão de embarque. Embarquei na certeza que estas lembranças desconexas vão me proteger, dentro de mim elas fazem sentido. Não me sinto só, não tenho medo e quase paro de sentir fome. Sorri, então.
A viagem estava completa.