segunda-feira, janeiro 23, 2006

Hotel Primavera - quarto 220

Meu final de semana começou na quinta-feira com o aniversário do João. Para mim eles são três. Nenhum deles tem um pé de feijão, mas são mágicos, divertidos e fazem com que minha vida seja mais leve. O aniversário não tinha como ser de outra forma. Norma Lúcia, a performática, dançava colocando a saia na cabeça e repetindo incessantemente: _ A memória é uma ilha de edição. O garçom passou a ser chamado de mamãe. Houve até a leitura de uma carta íntima, poesia, musiquetas eróticas, flashs e Vicente Celestino. Em pouco tempo o aniversário virou a principal atração do lugar e a diversão dos garçons. João estava feliz. Nem sempre os aniversariantes estão felizes. Aniversário é um dia que você é público e às vezes isso é chato. João só queria rir, tirar fotos, cervejas geladas e sair para dançar. Ele estava muito feliz e todos os convidados também.

Sexta-feira: - uma formatura no interior. Uma turma complicada no conjunto, mas adoráveis isoladamente, extremamente acolhedores. Logo no hotel uma surpresa. Fiquei hospedado no mesmo quarto 220, o mesmo da primeira vez em que estive lá para ministrar uma palestra. Durante todo o tempo que lecionei ali, nunca mais fiquei neste quarto, o hotel é grande, fiquei em vários outros quartos. Quando a recepcionista me entregou a chave e entrei no quarto tive a certeza de estar concluindo uma etapa. Não sei daqui pra frente tudo será melhor, mas será novo. Não acredito em acaso, acredito em sinais. Basta um pouco de atenção.
O céu salpicado de estrelas.Um jantar delicioso. Beth sabe receber como poucos. Lá conheci alguém que já foi Branca de Neve. Uma amiga de Glória, Divina Cida, um dos olhares mais fortes que já vi. Foi uma noite onde perdi completamente a percepção do tempo, as horas se tornaram segundos.
O sábado na casa da Glória. Um dia de realmente de glória. Não tinha como ser diferente. Uma família adorável [a mãe de Glória é a senhora mais encantadora que eu já conheci, um exemplo doce de fé], madeira de demolição, mosaicos de pastilhas de vidro por todos os lados, jardim, vento, móveis antigos, cães enormes e dóceis. Se houvesse pinheiros eu poderia achar que estava na Toscana. Por todos os cantos sensibilidade, bom gosto, trabalho e a determinação de Glória e seu marido gritam. Tudo ali contava uma história. Histórias de amor, fé, carinho, batalha, ternura, vitórias e muita esperança. Um almoço que alimentou o corpo e a alma. Um dia e pessoas que já guardo na eternidade da memória.

Ontem fui assistir Crônicas de Nárnia - o leão, a feiticeira e o guarda-roupa. A história de quatro crianças que entram em um guarda-roupa que dá acesso ao reino de Nárnia.
Daqui a pouco vou entrar no meu guarda-roupa, talvez assim um dia eu consiga voltar ao quarto 220.

p.s.:
_ obrigado a Maria Inês pela oportunidade de felizes encontros.
_ obrigado a todos os meus alunos de Bom Despacho por tanto carinho.
_ obrigado a Beth e Braga, a Glória e Jorge por me receberem tão bem.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Diástole e sístole

Tem quase um mês que não escrevo aqui.
Norma Lúcia escreve e rasga, agora escreve cartas para um carteiro.
Eu escrevo em mini-blocos, post it, agenda, em sobras de papel retalhos de vida... só não consigo ficar sem escrever. É que às vezes é difícil escrever aqui. Eu ainda não me acostumei. Não me acostumei [um espanto] que tem gente interessada no que escrevo, não me acostumei com a necessidade de atualização, não me acostumei com a velocidade dos acontecimentos. Estou de férias, é verão, isso só me torna ainda mais disperso.
Dia 03 escrevi este texto, mas não o publiquei. Tanta coisa aconteceu depois que sua importância se dissolveu. Resolvi publica-lo, afinal dia 03 de janeiro de 2006 foi só aquele, talvez só isso já faça algum sentido.

Diástole e sístole

Anteontem foi ressaca.
Ontem fui ao cinema: - Cinema, Aspirinas e Urubus.
Hoje foi o meu primeiro dia do ano. Acordei com vontade. Olhei o dia pela janela.
O sol quente e mini pássaros em círculos.
Meu coração vive dias de inquietação.
O ano se inicia e o coração continua batendo descompassado.
Não tenho olhos para quase nada. Meu foco é único.
Ainda não fiz planos. Não estabeleci metas. Apenas peço que seja doce.
No meio das insanidades do final do ano, quando não buscava nada, achei desejo. Aliás não achei, pois não procurava. Fui achado e atiçado.
Desejo que surpreende, instiga, diverte. Desejo que preenche parte do inesgotável vazio.
Não é só desejo puro, pois bem sei onde o meu desejo é capaz de me levar. É desejo com cuidado. O problema é sempre a intensidade. Desejo às vezes vira paixão e paixão em mim se resume a sintomas bem próximos da insanidade. E mesmo já tendo experimentado isso várias vezes, é sempre novo e não sei muito como suportar. Amar não é para qualquer um. É pingo denso de chuva gelada no corpo quente. Gelo na nuca. Grita mudo, descompassa a rota.
Na cavidade do meu coração, diástole e sístole de você.