domingo, dezembro 20, 2009

para a menina no balcão

agora é o tempo do vazio
a hora de se esvaziar de mim mesmo
de expirar
para inspirar assim que estiver pronto.
vou tomar vento e ver o céu.

segunda-feira, setembro 07, 2009

Post- it olhos-coração

Tudo o que você sussura graficamente em meus olhos
quem escuta é meu coração que segue preenchendo os ocos.
Meu coração é astigmata, míope, daltônico.
Apenas deduz e segue confuso.
Não há oftalmologista ou cardiologista que consiga reparar os danos.

terça-feira, junho 02, 2009

Onde vivem meus dragões.

Há mais de um ano resolvi mudar de ninho. Ninho é o lugar onde moro – aquilo que muitos chamam de lar – parede, chuveiro, cama, mesa, comida, chuveiro, bicho, aconchego.
A procura e a reforma durou mais de um ano. A escolha é difícil pois é a definição do lugar para onde se quer voltar.
Vasculhei ninhos habitados e inabitados, habitáveis e inabitáveis. Imaginei histórias e criei personagens a partir das referências daqueles lugares.
E tive que aprender a administrar o trabalho do pedreiro, pintor, marceneiro, eletricista, bombeiro. Eram poucas as opções e não fiz boas escolhas.
Tudo demorou bem mais que prometeram e a partir de então passei a me sentir refém destas pessoas. Sofri e entendi que para lidar com alguns profissionais você deve se blindar ao máximo. E entre erros e acertos quando a mudança chegou o pintor deu a última pincelada e disse que estava lelete – com ele aprendi que isso quer dizer ótimo - e se foi, praticamente expulso pela mudança.

Foram 10 anos exatos [nenhum dia mais, nem menos] vivendo no mesmo ninho. Enquanto assisti a retirada da mudança, todas as lembranças passaram pela minha cabeça e me despedi de cada uma delas. Aquele lugar despido dos meus objetos já não tinha nenhuma identidade além das cores que deixei nas paredes. A partir de então só existe na minha memória e na daqueles que por lá passaram.
No blog amigo tem fotos da ocasião da despedida:

http://retrosariamoda.blogspot.com/2009/03/era-uma-casa-muito-engracada.html

E com a mudança eu também me fechei para reforma.
Dediquei-me a sala de aula, ao confinamento e as pequenas sutilezas esquecidas. Desliguei o som, a televisão, os telefones, a internet, o interfone e a campainha - silêncio absoluto para ouvir o congresso dos meus dragões.
Dei um novo destino a tudo que não me servia mais – papeis, panelas, pessoas.
Chega um tempo que relacionar torna-se preservar a fidelidade ao encanto vivido com quem foi indispensável um dia, para que ainda possa existir algum encanto que justifique o encontro. E tento conviver com a temporalidade e a impermanência que se fazem presentes quando menos se espera.

Fiz aniversário um dia depois da mudança.
Acordei ‘estranho no ninho’, como se fosse um hóspede de mim mesmo.
Estive alheio ao aniversário, ao carinho não.
Estar ausente possibilitou repensar o que é estar em minha companhia. Tentei perceber como sou percebido. Entendi que para algumas pessoas eu só existo no ambiente virtual - para elas ao vivo e a cores sou quase invisível. Para outras minha existência em qualquer lugar é indiferente. Talvez eu seja mesmo esquisito, mas sou assim desde zigoto...
E também descobri que alguns gostam muito de mim – eles souberam domar meus dragões e descobriram que no meu reino de faz-de-conta ainda guardo flamingos, pôneis, carneiros, pinguins. Sabem que lá os desaniversários são sempre mais importantes.
E depois de algumas escolhas, as paredes são brancas, o papel de parede é rosa sujo, rosa velho, “rosa cor de sorvete de massa” como escreveu minha mais nova amiga de infância.
Do meu quarto vejo passarinhos e a incidência do sol de outono.
Meus dragões estão presos. Minha vida agora é caderno novo.


A todos aqueles que permaneceram sem nenhuma cobrança, que sentiram minha falta e fizeram com que eu não me sentisse solitário mesmo estando sozinho.