quarta-feira, novembro 23, 2005

Enceradeira na existência

Hoje acordei antes do despertador, bem antes. Ando lutando contra a escassez.
Já estou vivendo o tumulto do final de ano.
Estou enjoado. Eu enjôo fácil. Enjôo existencial não tem Plasil que cure.
Vontade de virar urso e hibernar. É fuga eu sei, mas é um esconderijo seguro.
Quando enjôo preciso ficar sozinho. Eu, a gata, as flores, as músicas, os livros, a cama.
Eu preciso de certos requintes.
Tento ter cuidado para não virar porco espinho, às vezes escapa. Eu não sei fingir. Os amigos já sabem. Período sabático.
Cortei o cabelo. Sempre alivia. Norma Lúcia também cortou e tivemos breves surtos de felicidade instantânea. A alegria de Norma Lúcia passou. A minha com o cabelo permanece, mas me perco no tumulto.
A notícia me perturbou.
Um passarinho foi morto com um tiro de rifle na Holanda. Ele derrubou vinte e três mil peças de dominó entre não sei quantas milhões de peças montadas para serem derrubadas ordenadamente na tentativa de se bater um recorde. Fiquei imaginando a brutalidade. Amsterdã é um lugar interessante, bacana. No inverno parece um desenho do Snoopy com todos aqueles canais congelados e crianças patinando no gelo ouvindo música clássica.
As pessoas precisam estar munidas de rifles para montarem dominó em um estádio?
Não poderiam simplesmente espantar o passarinho e remontar o estrago? Eu não acho que passarinhos sejam apenas animais, pra mim se enquadram em uma categoria mais divina, encantada. Era só um passarinho distraído, poderia ser eu ou qualquer um.
Às terças feiras as marcas do meu assoalho desaparecem à medida que a enceradeira desliza sobre ele. De longe só se enxerga o brilho. De perto os arranhões mais profundos podem ser vistos.
Eu queria uma enceradeira na existência.

4 comentários:

Anônimo disse...

P E R F E I T O !

Uma enceradeira na existência seria ótimo!
Ontem eu vi um clipe de uma banda gótica! Não passei pela fase adolescente mas gosto um pouco... E foi como um tiro no escuro (não sabia do que se tratava).
O gótico é meio melancólico, e sua poesia assusta. Mas é totalmente romântico.
E a música tem um nome de mulher: HELENA! Lindo....
De repente, Helena levanta do caixão com suas sapatilhas pretas e dança balé até cair. LINDO!!!! PERFEITO como o seu texto!

Beijos

Anônimo disse...

http://www.mychemicalromance.com/

No Flash Site, acesse Media e à esquerda, em Videos, ´clique em Helena.

O site é nervoso e agressivo (pra quem gosta é ótimo, mas não consigo ficar muito tempo nele não).

Depois vc me conta o que achou.

Beijos

Anônimo disse...

Ei, Flávio!
Nossa...que lindos os seus textos.
Ai, vou sentir saudade de dar aula com você!!! Beijo grande!

Anônimo disse...

Flavinho,
Seus textos estão se superando! Muito lindos... Eles todos reunidos dariam um livro delicioso de ler.

:)